Ir. M. Laíde Inêz Sonda
A Ir. M. Laíde Inêz Sonda é uma artista e arquiteta reconhecida e estimada. Contribuiu muito para o apostolado litúrgico das Pias Discípulas do Divino Mestre. Atuou com dedicação na formação e elaboração de projetos litúrgicos na área da arquitetura religiosa, colaborando com a Igreja Católica no Brasil. Em 24 de março de 2023, celebrou 50 anos de vida religiosa.
Aqui está o seu testemunho:
Entrei em 1966 em Caxias do Sul, quando a Congregação estava quase completando 10 anos de Brasil. A casa que nos acolheu acabava de ser construída, toda em madeira, pintada nas cores bege e verde. Eram tempos muito promissores pois as vocações floresciam e a casa estava cheia de jovens, 33 ao todo, das quais 13 tínhamos menos de 15 anos.
A nossa vida consistia na oração e na ação. Tínhamos missa diária, meditação, laudes e vésperas somente ao domingo, adoração diurna e noturna, semana sim, semana não.
Caxias do Sul é uma região de serra e faz muito frio. Não tínhamos o necessário para nos agasalhar e Madre Bartolomea Ali, exímia alfaiate, nos ensinava corte e costura, e animava-nos a aprender costurando o nosso casaquinho embora a maioria tivesse que costurar manualmente, pois só tínhamos duas máquinas de costura.
Não havia um ganha pão fixo pois o centro de Apostolado Litúrgico instalado nas dependências da Curia diocesana, era pouco conhecido e frequentado. Para a nossa manutenção e alimentação recorríamos aos agricultores da vizinhança. Andávamos cerca de 5 km, para percorrer as redondezas e levar para casa o necessário para a semana. Comíamos o triguilho no lugar do arroz, o leite em pó, alimentos que a Cáritas distribuía para as Congregações e entidades sem fins lucrativos.
Apesar dos limites e da precariedade, fazíamos o que era possível para atender pedidos que poderiam nos ajudar economicamente. As fitas de braço para primeira eucaristia era um dos itens procurados. Não bastava a fita laço, mas tinha que pintar um PX ou então um símbolo eucarístico. A madre estimulava a criatividade e sabiamente nos mostrava as fotos das irmãs artistas da época, Claire, Cesarina Giordani, Monique Angelica e nos dizia: olhem para estas irmãs! Nós não temos nada, mas teremos no futuro ateliers de arte, de cerâmica, a revista. Colocava-nos no coração o desejo de aprender, de criar, de sonhar. Além da tinta não havia senão a nossa criatividade. Com a raiz da cenoura molhada na tinta pintavam-se os grãos de uva e as tenras folhinhas da videira eram o gabarito para a pintura das folhas. Não se podia certamente esperar obras de arte, mas experiências que nos estimulavam a dar o melhor, independente dos meios.
As fotos as falas abriam-nos à esperança de um futuro no qual teríamos condições de prover às necessidades e colocar os nossos talentos a serviço da Igreja. A frase carismática muito repetida era: “Ser membros vivos e operantes na Igreja.” O pouco sempre era muito, pois exigia tudo de nós. O esmero e a beleza devia estar em tudo: no modo de arrumar e limpar a casa, no jeito de arrumar a mesa, as flores etc. O meu é um testemunho simples mas que penetrou minha vida de discípula e fez-me sonhar com uma atuação sempre mais qualificada do que somos e produzimos.
Considero que temos um futuro brilhante se soubermos aproveitar os meios ao nosso alcance embora vislumbre também o perigo de estar à mercê do ‘já pronto’ e ficar satisfeitas sem aguçar a capacidade criativa, a reflexão teológica necessárias para oferecer o que é solido, digno e capaz de anunciar a suprema beleza do Deus Uno e Trino; UNIDADE E COMUNHÃO.
Ir. M.Laíde Inêz Sonda